Cherreads

Chapter 43 - Caminho da Espada (2)

Nephis, logo após um Sunless sombriamente resignado, desceu do galho largo com o auxílio da Sempre-Viva.

Seus outros dois companheiros ainda se demoraram antes de segui-los...

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Hesitando durante um momento silencioso, Cássia inclinou-se para frente, tocando o braço do jovem elegante antes de perguntar:

"Aria, está tudo bem com você?"

Ele se demorou mais um segundo olhando para os outros dois que trabalhavam no corpo do monstruoso gigante, buscando pelos fragmentos de alma enquanto removiam bifes de sua carne.

"Hmm... bem? Bem... estar bem é subjetivo... O quão boa você é em solicitude e, se estiver confortável, poderia me oferecer um pouco de apoio?"

Um pequeno ruido escapou de Cássia, algo entre um bufo e uma risada curta. O semblante de preocupação em seu rosto requintado sendo sutilmente marcado por uma diversão hesitante.

"Ehh... Eu... hum..."

Ariandel bufou contentado diante daquela fofura.

"Algumas pessoas têm o hábito de morder um lápis ou pincel por algum tempo pela manhã. Isso as mantém com um "sorriso", fazendo com que o cérebro acredite que há um motivo para se sorrir, liberando endorfinas na corrente sanguínea... Assim, a ilusão de alegria ameniza a dor no coração, efetivamente, manifestando uma sensação real de bem-estar..."

A doce e gentil garota sorriu com uma compaixão dolorosa. O jovem esquecido, então, voltou-se para aqueles olhos que considerava tão belos.

"Eu... Quando cheguei a este mundo... sem lembranças... sem ninguém—"

Sua voz falhou, e ele hesitou. Franzindo levemente o cenho, seu belo rosto ficou sutilmente marcado pela confusão... e, por um momento, permaneceu sob um estranho entorpecimento.

"Você é linda, sabia? E não me refiro à sua aparência, não neste momento. Enquanto eu me encontrava entre os Sonhados da Academia Desperta, e observava suas desesperadas tentativas de lidar com a iminência da provação do Feitiço, senti certo... vazio?"

Ariandel se demorou por um segundo. Antes de continuar, no mesmo tom fluente:

"Eu queria encontrar alguma companhia... alguém com quem compartilhar os primeiros — e, muito provavelmente, os últimos — dias de minha vida. Mas todas as opções pareciam um tanto insinceras, ou forçadas ao sofisma. Reconheço, contudo, que o estranho no contexto era eu."

Cássia segurou sua mão fria, firmemente. Ele retribuiu o gesto atencioso, gentilmente.

"Todas, menos a sua... Você é forte, sabia? Qualquer outro Sonhador, em sua situação, teria cedido à loucura... mas eu te vi — naquele canto evitado — persistir contra o abandono e a desesperança... Mesmo depois disso, você não renunciou à sua dignidade. Uma jovem bela, sorridente, tão atenciosa, tão refinada... Verdadeiramente respeitável... Uma força realmente louvável..."

Ela tremia. A garota mordeu o lábio, lutando para conter as lágrimas. E retrucou, a voz embargada por emoções ansiosas:

"Não devia ser eu a te confortar?"

Ariandel ergueu a outra mão e, com leveza, tomou um único fio loiro-claro — dos airosos cabelos ondulados de Cássia — entre os dedos.

"Ah, estou tentando o meu melhor para expor o meu coração."

Seus lábios formosos se torceram num sorriso.

"Mas o que posso fazer, se o conteúdo que primeiro dele transborda é a minha genuína admiração... pela minha melhor e mais querida amiga?"

Ele riu, genuinamente divertido.

"Assuma a responsabilidade!"

Cássia tremeu e — não se sabia se por timidez ou enfurecimento — corou, as bochechas macias docemente tingidas pelo rubor. Ela bateu o pé contra o tronco largo.

"Ó Céus! Este homem!!"

"Ahahaha!"

"Não ria!"

Ariandel bufou, contente, diante daquela coisa adorável.

Logo, o silêncio voltou a se instalar entre os dois... E, com ele, também retornou o entorpecimento ao semblante do jovem esquecido.

Naquele momento, a garota delicada se moveu, tentando o seu melhor para encontrar o olhar dele — guiando-se apenas pela respiração silenciosa e pelo calor quase ausente ao seu redor.

Ela sentiu, então, um toque cuidadoso afastar os fios que cobriam sutilmente seu rosto. Um misto de sentimentos envolveu o coração de Cássia; um turbilhão de ideias ousadas tumultuou-lhe a mente.

... Havia certas coisas que não podiam ser transmitidas por palavras, nem mesmo pelo mero vocabulário humano.

Então... ela o abraçou. E o fez resoluta.

O coração abatido, gradualmente, acelerou... e descompassou... O corpo dele, começou a vacilar.

Logo, o jovem esquecido conseguiu, enfim, derramar a dor que carregava no peito.

Logo, Cássia sentiu as lágrimas quentes escorrerem sobre ela.

Ele se ajoelhou — e ela o acompanhou.

Ele começou a chorar baixinho — e ela chorou com ele...

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Com medo de que o alado monstro caído — aquele que eles tinham visto devorar o Centurião da Carapaça morto — reaparecesse, desta vez para reivindicar os restos do Demônio da Carapaça, os quatro Dorminhocos deslocaram-se para um ponto distante da ilha e esconderam-se atrás do tronco massivo da Árvore das Almas.

Somente quando estiveram seguros de que nada os notaria do alto é que, finalmente, acenderam uma fogueira rude — feita de gordura, ossos e algas escuras — para o desjejum. Em pouco tempo, o aroma suculento de acém, enriquecido pela essência da alma desperta de um demônio, pairava no ar.

As grossas fatias de bife chiavam dentro de uma grande frigideira de aço antiaderente, retirada por Ariandel — Insigne Artesão da Fantasia — utilizando algum truque mágico... ou alguma feitiçaria bizarra herdada de seu Legado de Aspecto. Havia até mesmo algumas cebolas e outros condimentos simples, porém saborosos, complementando a refeição.

Nephis permaneceu quieta, incapaz de compreender plenamente o contrassenso diante de si. Aquilo ultrapassava os limites do que sua imaginação era capaz de acompanhar.

Ela... deixou que o aturdimento escorresse de seus pensamentos. A Estrela da Mudança não podia se dar ao luxo de descuidar — não agora.

'Essa é uma excelente oportunidade para ser assassinada', pensou, desviando o olhar da beleza digna de um conto de fadas — e evitando, também, pensar em seu nome.

'Mas seria ainda melhor se não me tivessem contado sobre a Árvore das Almas... ou, talvez, seja exatamente nisso que devo acreditar, para que o arranjo se torne inevitável.'

Informá-la dos perigos, apenas para convencê-la de que não há alternativa senão se expor a eles — com todas as garantias de sobrevivência proporcionadas por outros — bastaria largá-la sob o encanto do terror desperto para que a Chama Imortal se extinguisse.

Um estratagema digno de um coração meticuloso e de calmas habilidades de observação.

Um talento inexplicavelmente instruído, inquietantemente carismático, com recursos à disposição dignos de um Legado.

Um enigmático jovem, sem lembranças, sem passado, sem qualquer vínculo.

Tudo para ser o assassino perfeito, criado em segredo por um dos três Domínios, enviado para não lhe dar chances de sobreviver.

'Poderia ele ter ligação com o evasivo Asterion, ser até filho dele?' Nephis continuava com suas dúvidas, embora uma parte de sua mente acreditasse que talvez ela estivesse apenas pensando demais.

'Cassi poderia dizer. Mas não há como ela entregar seu príncipe encantado. Quão conveniente que ele tenha sido o único a resgatá-la quando eu também estava por perto. Será que ele previu que nós nos reuniríamos assim? Foi por isso que dedicou seus últimos dias na Terra fazendo amizade com os dois?'

A luxuosa porção de carne estava pronta. Pratos e talheres surgiram nas mãos do jovem elegante como uma miragem.

'Não falta muito para alcançarmos o castelo... Na visão, estavam apenas a Cassi, o Sunny e a "Névoa"', ela recordou, reparando mais uma vez que somente ela não estava presente no momento em que o grupo, enfim, chegava ao destino pelo qual tanto persistiam.

... Uma refeição requintadamente preparada foi apresentada generosamente a Nephis:

Três bifes suculentos e amanteigados, divididos em sete pedaços iguais, organizados como as pétalas de uma Cecília;

Uma porção de frutas e vegetais, dispostos como a grama e as árvores de uma paisagem em miniatura.

... Naquele mundo sonhador, ela circunda muralhas pintadas, segue por becos marrons e entra no castelo laranja.

O sabor doce e terno brota como uma flor desabrochando.

A Estrela da Mudança abre os olhos.

O príncipe de cabelos brancos a observa com um sorriso.

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