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Continuação –
Na manhã seguinte, a estrada serpenteava entre as encostas rochosas de Nyrval. O ar era fresco, e a tensão entre Kátyra e Tharion parecia dissolvida. Até que chegaram a uma encruzilhada onde um pequeno grupo de batedores se aproximou.
Entre eles, uma mulher montava com elegância. Tinha cabelos castanhos presos num coque solto, olhos âmbar e um sorriso que se alargou ao ver Tharion.
— Então é verdade — disse ela, desmontando. — Você está mesmo do lado dos Ursos agora.
Tharion deu um meio sorriso.
— Alriel... achei que estivesse em Arkenmor.
— Estava. Mas quando soube que você foi ferido, vim ajudar. Achei que talvez ainda se lembrasse de como terminamos as coisas.
Kátyra, silenciosa ao lado, apenas arqueou uma sobrancelha.
— Terminaram as coisas? — ela perguntou, com uma calma gélida.
— Tivemos... um tempo juntos — disse Alriel, sem malícia, mas com leveza. — No tempo em que vocês todos estavam ocupados com alianças, guerras e silêncios.
Tharion limpou a garganta e se virou para Kátyra.
— Ela me salvou de um veneno Darxa. Foi... complicado. Mas curto. Nada que valha mais que um olhar atravessado seu.
— Eu não estou te olhando atravessado — disse Kátyra, gelada. — Só achei interessante descobrir essas histórias agora.
— Ah, então estamos naquela fase? — Tharion riu. — Que bom saber que a tempestade da coroa ainda guarda trovões de ciúmes.
— Não estou com ciúmes — ela rebateu.
— Não? Porque você está bufando igual um urso irritado — ele zombou, piscando.
Ela se calou. O silêncio entre eles cresceu até virar um muro. Montaram sem trocar mais que comandos práticos. Alriel, percebendo o clima, se despediu educadamente e seguiu por outro caminho com os batedores.
Durante horas, a viagem foi um desfile de birra e orgulho. Nenhum dos dois cedia. Até que, ao cair da tarde, enquanto armavam acampamento junto a um riacho, Tharion se aproximou devagar.
— Ei... — ele disse, entregando um pedaço de pão quente. — Você ainda não me perdoou por algo que aconteceu antes de tudo, né?
Kátyra o olhou, os olhos mais suaves.
— Não é sobre ela. É sobre nós. Sobre o que perdemos. E o que ainda podemos perder.
Tharion sentou ao lado dela.
— Eu escolhi você. Mesmo quando te odiava. Mesmo quando achei que nunca mais ia querer te ver. E continuo escolhendo, Kátyra.
Ela encostou a cabeça em seu ombro.
— Eu só... não quero mais te perder. Nem ele.
— Então a gente vai até o fim. Juntos. Com ou sem ex-namoradas mal cronometradas.
Ela riu pela primeira vez em horas.
— Idiota.
— Seu idiota favorito.
A noite caiu sobre eles como um manto protetor. E, pela primeira vez em dias, dormiram tranquilos.