Cherreads

Chapter 62 - Os que caminham sem som.

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Capítulo – Os Que Caminham sem Som

A madrugada avançava com passos tímidos. O grupo seguia por uma trilha antiga, esculpida entre pedras que lembravam faces esquecidas. O céu estava estranho — sem nuvens, sem estrelas.

Kátyra caminhava à frente, a mão em sua barriga num gesto instintivo. Às vezes, um desconforto leve. Às vezes, apenas a sensação de que algo a observava.

Orren, ao lado, dobrava o mapa lentamente, marcando um novo ponto.

— "Faltam só três cruzamentos. Estamos quase."

Ela assentiu. Em seguida, tirou o saquinho de sementes entregue pelo Erudito e o passou a ele.

— "Plante-as onde achar que deve."

Aelys vinha logo atrás, absorta na leitura do livro que recebera. De tempos em tempos, franzia o cenho.

— "Esse tal de 'Tharion de Orivann' aparece em várias gerações... Mas o nome muda, como se fosse... reciclado?"

Tharion não respondeu. Seus pensamentos estavam longe.

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Flashback – Dentro de Tharion

O cheiro de melado e fogo.

Titos correndo pelos corredores do palácio, pedindo doces.

— "Papai vai trazer um dragão?"

— "Papai..."

— "Por que o pai não vem mais?"

E naquele momento...

O menino perguntou, pela primeira vez:

— "O Erizy é meu pai?"

Tharion acordou do devaneio com a garganta apertada.

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O Aviso Silencioso

Mais adiante, um vilarejo.

Casas de madeira vazias. Portas escancaradas.

Nada quebrado, nada saqueado.

Mas também, ninguém.

Um ursinho jogado no barro.

Uma boneca na soleira.

E o mais terrível: nenhum som. Nem cães. Nem vento.

Kátyra se aproximou de uma parede marcada com cinzas.

— "Isso é... aramaico?" — Orren sussurrou.

Era. Uma inscrição rudimentar:

"Não chorem, pois nem o choro elas escutam."

Silêncio. Um silêncio que doía.

Tharion estalou os dedos nervosamente.

— "Vamos sair daqui. Agora."

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– O Sinal Sob as Sombras

Dias depois.

As botas do grupo estavam gastas, os olhos pesados, mas havia algo no ar: o pressentimento do fim.

Chegaram ao último ponto do mapa, onde pedras negras formavam um semicírculo natural. No centro, uma fenda no solo exalava um calor úmido e doentio. Ali, segundo as inscrições antigas, Voltrhuk despertaria.

Kátyra, mais pálida que o habitual, respirava fundo entre as dores que vinham como marés. Disfarçava com um sorrisinho rápido cada vez que alguém a olhava.

Tharion, porém, percebia. Seus olhos iam dela para o horizonte, silencioso, como se soubesse que o momento do parto e da guerra se aproximavam juntos.

Orren enterrou as sementes da árvore da vida, olhando para o céu, como se aquilo pudesse invocar algum poder antigo.

Aelys lia compulsivamente, os olhos arregalados.

— "Tharion... teu nome... ele aparece escrito ao lado de 'Primus de Sefarat'. Isso é... impossível..."

A Mensagem a Dimitry

No alto de uma colina, Orren ativou um espelho de prata.

Símbolos se acenderam.

A imagem de Dimitry surgiu. Cabelos mais grisalhos, mas os olhos tão afiados quanto nunca. Ao fundo, o trono vazio de Adam — agora coberto com um pano branco.

— "Recebi o sinal. Sei sobre as crianças. Sobre o livro."

— "A guerra vai começar antes do previsto."

Sem alterar o tom, ele moveu dois dedos.

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Os Guardiões Atendem ao Chamado

Na Fortaleza do Gelo, uma guerreira do Clã da Serpente deixa a faca cair propositalmente no chão, onde um símbolo oculto se acende. Ela desaparece na noite.

No Monastério do Grifo, monges interrompem o cântico. Um deles recolhe um medalhão, murmura "é chegada a hora" e voa com os ventos.

Nos Bosques da Coroa, dois Jeangles com aparência comum largam seus cestos de frutas. Seus olhos brilham com runas ancestrais.

Um a um, os aliados respondem. Não com gritos. Com silêncio e precisão.

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– O Coração do Precipício

Na fenda, os primeiros tremores.

A vegetação ao redor morre subitamente.

Kátyra apoia-se em Tharion, discretamente.

Ele a segura pelo cotovelo, sem olhar — mas apertando um pouco mais do que o necessário.

Ela sussurra:

— "Se eu cair... não me levanta. Protege ele."

Tharion engole em seco.

— "Você não vai cair. Não dessa vez."

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