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Capítulo – Sementes de Luz nas Terras Baixas
– Biblioteca de Cristal (Porta Escondida)
Nos dias seguintes, Tharion começou a usar com frequência a porta secreta da biblioteca — um arco de cristal engastado com raízes vivas da Árvore da Vida, ativado por uma combinação de palavras em grego antigo e o toque da pedra de argamantta. A biblioteca parecia saber que ele vinha com boas intenções. Do outro lado, o Erudito sempre o esperava já com chá fervendo e mapas desdobrados.
— Precisamos dividir as zonas. Se criarmos hortas elevadas com fertilização natural… coelhos, claro... e canaletas com as pedras de irrigação da casta aquática... — disse Aelys, apontando para a planta de uma vila.
— E o problema com os desaparecimentos? — Tharion perguntou, enquanto desenhava rotas com carvão. — Os guardas dizem que algumas crianças somem à noite, como se fossem sugadas pelo vento.
— Isso não é vento. — murmurou o Erudito, sério pela primeira vez. — É "Eru'el", a fome dos campos mortos. Alguém a está acordando. E se está levando crianças… é porque quer alimentar algo maior.
Tharion se enrijeceu. Seu olhar caiu sobre a parte do mapa marcada com um círculo vermelho. Ali, perto das minas abandonadas, três vilas tinham sido evacuadas.
— Eu vou lá. Com um grupo de confiança. Vocês continuam aqui. E se algo mudar, qualquer coisa, me avisem pela via da luz. — apontou para o feixe que conectava a biblioteca à Árvore da Vida.
Vila dos olhos secos ( terras baixas).
A vila estava morta. Silêncio demais, frio demais para a estação. Os galhos das árvores se contorciam como se quisessem fugir. Tharion caminhava com cautela entre as casas, acompanhado de três batedores e um velho rastreador jeangle.
— Alguma coisa tocou o solo aqui… — o velho sussurrou. — Mas não deixou pegadas.
Subitamente, o chão tremeu. Não um terremoto — mas um soluço da terra. Uma rachadura abriu-se não muito longe dali, e uma canção baixa, quase infantil, ecoou de dentro.
Tharion avançou até a borda, onde um pedaço de pano pendia de uma raiz retorcida.
— Isso é um vestido de criança. — murmurou. — Eles estão debaixo de nós.
– Biblioteca de Cristal (Mais Tarde).
Tharion retornou ao fim do dia. As olheiras profundas denunciavam o cansaço. Mas assim que atravessou a porta, Titos correu até ele com seu "chá invisível" e uma folha na cabeça, fingindo ser um elfo da floresta.
— Missão cumprida, papai? — perguntou, sério.
Tharion sorriu, tocando-lhe a cabeça.
— Ainda não, guerreiro. Mas estamos perto.
– Quarto de Kátyra
Tharion encontrou Kátyra deitada com Liora adormecida ao lado. Ela abriu os olhos quando ele se aproximou.
— Alguma notícia?
Ele hesitou. Sentou-se e pegou-lhe a mão.
— Os desaparecimentos são reais. Estão acontecendo… embaixo da terra. Algo antigo. Fome e sombras. Eu estou lidando com isso. Você… você precisa ficar.
Ela olhou para ele, firme.
— Me prometa que não vai sozinho.
Tharion apertou a mão dela com suavidade.
— Prometo. Mas você tem que prometer que vai descansar. E cuidar dos nossos filhos. Titos está convencido de que sou o rei dos coelhos.
Kátyra deu uma risada baixa, puxou o lençol até o queixo e assentiu.
— Então… tudo bem. Mas me traga novidades. E chá.
Ele riu, beijando sua testa.
— Invisível ou real?
— Surpreenda-me.
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