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Chapter 40 - Capítulo 40 – A Ruptura Final

O deserto diante deles parecia estar se desfazendo, as areias sendo devoradas pela escuridão crescente. Ryouma estava paralisado, seus olhos ardendo com uma intensidade insuportável. A chama dentro dele já não era mais uma força controlável, ela tomava conta de seu corpo e de sua mente, como uma tempestade que o arrastava para longe de tudo o que ele conhecia. Ele podia sentir o poder corrompendo suas emoções, suas intenções, e seu próprio ser. Mas o pior não era a sensação de poder descontrolado, o pior era o vazio crescente em seu coração. Nada mais parecia importar.

— Ryouma, pare! — Tang San gritou, avançando na direção do amigo, tentando alcançar o jovem que já parecia perdido em seu próprio furor. Ele já não via mais o Ryouma que havia conhecido, mas uma versão distorcida, sedenta por poder. — Isso não é o que você queria!

Mas a palavra de Tang San mal tocava a consciência de Ryouma. O jovem estava perdido no vórtice da escuridão que tomava conta dele, a obsessão pelo poder o cegando para tudo o que realmente importava. As figuras sombrias ao seu redor estavam agora mais próximas, como se o estivessem tentando consumir. Elas eram os reflexos de seus próprios medos, seus próprios desejos mais obscuros. E, no entanto, ele não se importava. O poder estava ali, diante dele, ao alcance de sua mão.

O Guardião da Verdade estava à distância, observando tudo sem emitir uma palavra, mas havia um leve sorriso em seus lábios, uma expressão que indicava que ele já sabia como tudo isso terminaria.

— O que é isso? — Ryouma sussurrou para si mesmo, a voz rouca. Ele podia sentir a energia fluindo através de seu corpo, se tornando cada vez mais intensa. — Eu sou... eu sou o mestre agora. Eu sou... o mais forte.

Tang San se aproximou mais, sem saber o que fazer. Ele sabia que Ryouma estava se perdendo. Mas o que mais poderia ele fazer? O Guardião havia dito que o poder trazia o preço da corrupção, e agora ele via seu amigo sendo consumido por aquilo que ele havia escolhido. O deserto parecia agora um reflexo da luta interna que Ryouma travava. A areia, que antes parecia firme, agora se movia como se fosse parte da batalha interna do próprio jovem.

— Ryouma, você tem que resistir! — Tang San implorou, a angústia em sua voz clara. Ele não sabia mais o que era real ou ilusão, o que era a verdade e o que era o preço da busca pelo poder. Mas ele sabia que precisava salvar Ryouma. Ele não podia perder mais alguém para o poder.

Ryouma virou-se abruptamente para ele, seus olhos agora refletindo uma intensidade sombria. Ele olhou para Tang San, mas não havia mais compaixão ou amizade em seu olhar. Havia apenas um vazio profundo, uma cegueira causada pela obsessão pelo poder.

— Você não entende, Tang San! — Ryouma gritou, sua voz agora distorcida, quase irreconhecível. — O que eu busquei não é um simples poder. É a chave para tudo o que eu sempre quis. Eu não posso mais parar. Eu... eu sou invencível!

Tang San deu um passo atrás, sentindo o peso das palavras de Ryouma. Mas o Guardião da Verdade ainda estava lá, observando em silêncio. Ele sabia o que estava acontecendo, sabia que o ponto de ruptura estava próximo.

— Ryouma... você está perdendo tudo. — Tang San disse, sua voz embargada. — Esse poder... não é uma benção, é uma maldição. Eu vi o que está dentro de você. O que você se tornará.

Ryouma deu uma risada amarga, um som que parecia vir das profundezas do inferno. Ele avançou em direção a Tang San, sua espada reluzindo com uma luz escura, como se fosse uma extensão de sua própria alma corrompida.

— Eu não me importo com o que você pensa, Tang San! — Ryouma rosnou, a energia que emanava dele agora era quase palpável. — Você não entende! Você sempre foi fraco! Não vê? Só eu posso alcançar isso. Só eu posso controlar o destino!

Tang San deu um passo para trás, mas a sensação de perigo o envolvia. Ele sabia que havia algo mais por trás dessa fúria. Ele havia visto o poder consumindo o corpo de Ryouma, mas também sabia que o amigo não estava completamente perdido ainda. O Guardião da Verdade, porém, parecia permanecer como um espectador, suas palavras ressoando em sua mente:

"Vocês escolheram o caminho da escuridão. Mas a linha entre a salvação e a destruição é tênue. E agora, Ryouma está se aproximando do limite."

— Ryouma, pare! — Tang San gritou, agora com mais urgência. — Você ainda pode voltar atrás. Você não precisa seguir esse caminho. O poder não vai te salvar.

Mas as palavras de Tang San eram como folhas ao vento. Elas não tocavam mais o coração de Ryouma, cuja mente estava tomada pela obsessão. Ele avançou, e a espada que segurava se transformou em um raio de luz escura que cortou o ar com uma velocidade mortal.

Tang San não teve tempo de reagir. Ele levantou as mãos instintivamente, tentando proteger-se, mas a força do ataque o fez ser lançado para trás, caindo pesadamente na areia. Sua visão se embaçou por um momento, mas ele se levantou rapidamente, a dor em seu corpo servindo como um lembrete cruel do que estava acontecendo.

Ryouma estava diante dele, a expressão completamente irreconhecível, sua postura de combate selvagem e descontrolada.

— Eu... — Tang San começou, ofegante, tentando reunir forças. — Eu não posso permitir que você continue assim, Ryouma. Você está se destruindo.

O Guardião da Verdade, ainda em silêncio, parecia observar o que acontecia com uma intensidade inquietante. Ele sabia que os dois estavam em um ponto de não retorno, mas sua voz não se fez ouvir. Ele não interveio. Isso fazia parte do teste, parte da jornada que Ryouma e Tang San teriam que enfrentar por conta própria.

Mas, de repente, o deserto começou a mudar novamente. A areia ao redor começou a se agitar violentamente, e uma luz intensa começou a brilhar no horizonte. Não era uma luz comum. Era uma energia pura, algo além do que Ryouma e Tang San já haviam experimentado.

— O que está acontecendo? — Tang San sussurrou, sentindo a pressão aumentar.

As figuras sombrias começaram a desaparecer, sendo consumidas pela luz que surgia do nada. Era como se a própria realidade estivesse sendo reconstruída, desfazendo as sombras que haviam invadido o deserto.

Ryouma olhou para a luz com uma expressão perplexa. Algo estava acontecendo dentro dele, algo que ele não podia controlar. Ele sentiu a energia em seu corpo começar a se agitar de maneira incontrolável, como se fosse um fogo que ele não pudesse apagar.

— Não... — Ryouma gritou, sentindo a força do poder crescendo dentro dele, ameaçando explodir. Ele não sabia o que estava acontecendo, mas uma sensação de desesperança começou a tomar conta dele.

A luz, agora crescente, tomou conta de todo o deserto, apagando a escuridão e levando consigo as sombras do passado. Ryouma caiu de joelhos, a dor crescente como um peso esmagador em seu peito. Ele sabia que o que acontecia não era algo normal. O poder que ele havia buscado estava se voltando contra ele, e o preço que ele tinha que pagar agora parecia ser mais do que ele poderia suportar.

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