O rugido que ecoou por toda a Floresta Estrela Dou não foi apenas um aviso. Foi uma declaração.
Tang San e Ryouma, agora lado a lado, sentiram o impacto como um peso esmagador no peito. A energia do ambiente pareceu vacilar por um instante, como se até a própria natureza hesitasse diante daquilo que acabava de despertar.
— Isso não é uma besta comum — disse Tang San, seus olhos ficando mais escuros, como se tentassem enxergar através da névoa.
Ryouma permanecia imóvel, olhos semicerrados. O sistema que o acompanhava vibrava levemente, como uma máquina em prontidão. Linhas de energia dourada percorriam sua retina de forma quase imperceptível, permitindo-lhe sentir as alterações do ambiente com mais precisão.
— Algo com mais de 50 mil anos, talvez mais… — murmurou ele.
Tang San o encarou de lado. — Você não deveria ser capaz de detectar isso com tanta exatidão.
— Eu sou diferente — foi tudo que respondeu, antes de começar a caminhar lentamente na direção do rugido.
Tang San hesitou. Tinha ordens claras: não se expor, não revelar o Martelo do Céu Claro, e jamais entrar em confronto com bestas de alto nível sem o apoio dos mestres da Escola Nuo.
Mas algo naquele momento o incomodava. Como se estivesse sendo arrastado por um fluxo inevitável, como as correntes de um rio ancestral.
Seguiu Ryouma.
A vegetação parecia mudar à medida que se aproximavam. Árvores retorcidas, musgos que brilhavam com tonalidades vívidas demais, como se estivessem absorvendo energia diretamente do plano espiritual. E o mais estranho: o silêncio.
Não havia mais grilos. Nem pássaros. Nem vento.
A floresta estava paralisada.
Foi Ryouma quem quebrou o silêncio primeiro:
— Você percebeu? Não há nenhum sinal de bestas espirituais nas redondezas. Como se todas tivessem fugido… ou se escondido.
Tang San assentiu.
— Algo está pressionando a cadeia alimentar dessa floresta de cima para baixo. Uma presença tão forte que até os mais selvagens preferem se recolher.
Ryouma sorriu. — Interessante. Talvez não encontremos apenas um anel… mas um segredo.
Mais adiante, uma clareira.
E no centro dela, envolta por uma névoa prateada, uma forma gigantesca se erguia.
Era um tigre. Mas não um qualquer.
Tinha quase dez metros de altura, pelagem prateada com listras negras reluzentes, e olhos dourados que pareciam feitos de puro espírito. Cada movimento do monstro era lento, mas pesado. Seus músculos ondulavam como rios de energia. E seus olhos estavam abertos… mas vazios.
— Isso… — Tang San se engasgou — …é um Rei Espiritual?
— Mais do que isso — murmurou Ryouma. — É um espírito antigo. Mas algo está errado.
Ele apontou para o corpo da criatura. Havia marcas negras, quase imperceptíveis, pulsando lentamente em sua pele — como se algo estivesse corroendo sua alma por dentro.
— Está corrompido? — Tang San perguntou, instintivamente recuando.
— Mais do que isso — respondeu Ryouma. — Está sendo controlado.
Um instante depois, os olhos da criatura se voltaram diretamente para eles.
E o caos começou.
O primeiro movimento foi tão rápido que Tang San mal teve tempo de reagir. Uma onda de pressão espiritual varreu a clareira, jogando ambos contra as árvores como folhas ao vento. Ryouma girou no ar, ativando instantaneamente sua serpente carmesim, criando uma barreira térmica ao seu redor. Tang San invocou seu martelo interior — não o Martelo do Céu Claro, mas suas habilidades de controle de fios e agulhas ocultas.
— Espalhe! — gritou Ryouma, lançando cinco selos espirituais no ar. Cada selo brilhava em uma tonalidade distinta — vermelho, roxo, azul, verde e prata — criando uma formação mística que girava ao redor da criatura.
Tang San não questionou. Ativou sua habilidade de controle de terreno, utilizando o Aranha Fantasma para prender as pernas da criatura. Mas os fios simplesmente derreteram ao tocar na pele do tigre.
— É inútil! — gritou ele.
Ryouma saltou, girando no ar como uma lança flamejante, a raposa negra agora ativa atrás de si, com nove caudas em chamas espirituais.
— "Arte da Quebra Dimensional: Nona Lâmina!" — rugiu, cortando o ar com um ataque que dividiu o chão da clareira em duas direções.
O golpe atingiu o flanco da criatura, gerando uma explosão de energia. Mas quando a fumaça baixou, o tigre ainda estava de pé. E sorriu.
Sorriu.
Tang San estremeceu.
— Isso não é um animal. É um espírito com consciência.
Ryouma caiu de joelhos, cuspindo sangue. O sistema o alertava sobre a magnitude da criatura: 87 mil anos. Era quase um milagre ainda estar vivo.
Mas então… a criatura falou.
— "O herdeiro do selo... finalmente acordado."
Ambos os jovens congelaram.
— Você… fala? — perguntou Tang San.
A criatura virou o rosto lentamente. Seus olhos focaram em Ryouma.
— "Você não devia ter vindo. Ainda não era sua hora. Ainda não tem forças para libertar… o que está preso dentro de si."
O mundo pareceu estremecer com aquelas palavras.
Ryouma se ergueu, os olhos em chamas. — Quem é você?
A criatura suspirou.
— "Eu… sou o guardião do fragmento da Memória Eterna. E você é o portador da ruína. Seus passos… trarão o retorno de algo que nem os deuses ousam nomear."
Tang San avançou com suas agulhas ocultas, mas o tigre ergueu uma pata e as destruiu antes mesmo de chegarem perto.
— "Silêncio, filho da forja. Seu martelo carrega o sangue do sacrifício, mas não é sua hora de lutar."
Ryouma apertou os punhos. O sistema pulsava em sua mente, ativando rotas ocultas, abrindo sinapses que antes estavam adormecidas.
"Sistema: Permissão emergencial concedida. Acesso temporário ao Modo de Ascensão Primordial liberado por 30 segundos."
Uma luz dourada explodiu de seu peito.
E então… tudo mudou.
O tempo desacelerou.
Cada partícula de energia ao redor começou a girar em torno de Ryouma. As árvores, a névoa, até mesmo a luz do sol parecia inclinar-se diante daquela presença emergente.
Tang San observou, estarrecido, enquanto a figura de Ryouma se elevava levemente do chão. Suas pupilas se tornaram fractais douradas, e as duas bestas espirituais ao seu redor se fundiram em uma única aura colossal.
— Isso é… — murmurou Tang San, com a respiração presa. — …um poder que nem os Títulos Douluo possuem.
Ryouma disparou.
A primeira troca com o tigre ancestral foi como uma colisão entre mundos. Luz e sombra explodiram, energia espiritual se torceu em formas impensáveis. Cada soco, cada corte, cada movimento de Ryouma era amplificado pela energia do sistema — sua força, velocidade, percepção, resistência… tudo multiplicado.
O tigre rugiu de dor pela primeira vez.
E então…
Silêncio.
A criatura caiu de joelhos.
— "Você… está começando a despertar. Mas cuidado… cada vez que usar esse poder… algo mais em você se rompe."
Ryouma, agora ofegante, caiu ao chão. A aura dourada desapareceu.
— "Eu deixarei esta floresta. Por enquanto. Mas… nossos caminhos se cruzarão de novo, herdeiro do vazio."
E com isso, o tigre desapareceu em uma explosão de névoa prateada.
Tang San se aproximou, ainda sem palavras.
— O que… foi isso?
Ryouma estava deitado, sangrando. Mas sorria.
— O começo. Apenas… o começo.