O peso do olhar de Olho-Negro era sufocante. Mesmo sem boca convencional, Rob teve a impressão de que o demônio sorria com o rosto inteiro, como se visse um brinquedo novo para desmontar.
Blade, sempre despojado, apenas cruzou os braços, como se não se importasse de estar diante de uma entidade que podia triturá-lo com um pensamento.
— Qual é a boa hoje, chefe? — perguntou Blade, num tom quase desafiador.
Olho-Negro inclinou a cabeça, curioso. As sombras pareciam se curvar em direção a ele, como se a própria Noitosfera obedecesse sua vontade.
— Um humano... — repetiu ele, como se saboreasse a palavra. — Faz séculos que não vejo um de verdade perambulando aqui.
Rob tentou manter a postura. Mas era difícil, especialmente quando se sentia menor que uma pulga sob o olhar daquele ser.
— Ele é meu... parceiro — disse Blade, com um sorriso travesso. — Tá sob minha responsabilidade.
— Hm. — O demônio ponderou, suas mãos de garras estalando suavemente. — Se quebrar as regras, você paga por ele.
Rob sentiu um frio subir pela espinha. Antes que pudesse perguntar o que seriam essas tais "regras", Olho-Negro já tinha desaparecido nas sombras, como se tivesse apenas sido uma miragem ameaçadora.
— Caramba — exclamou Rob, respirando de novo. — Esse cara me dá calafrios.
— Relaxa — respondeu Blade, dando um tapinha em suas costas. — Ele é o típico patrão da Noitosfera: grande, assustador e sempre à procura de um bom motivo pra devorar alguém. É só não dar motivos.
— Tranquilo, né? — respondeu Rob, irônico. — Não dar motivos num lugar onde até respirar pode ser considerado uma ofensa.
Blade riu e puxou Rob para dentro da muvuca do cassino. As luzes vibrantes, as músicas dissonantes, o cheiro de magia corrompida — era um caos de estímulos que deixaria qualquer um tonto.
— Bora fazer umas moedas — disse Blade, piscando um olho dourado.
Rob não sabia, mas aquele seria apenas o começo de uma jornada que transformaria tudo que ele pensava sobre si mesmo.
Blade ensinou Rob algumas regras básicas:
Nunca aceitar uma aposta sem ler o "preço escondido".
Nunca beber duas vezes o mesmo líquido vindo da mesma fonte.
Nunca confiar em criaturas que sorriam demais.
Com esses ensinamentos duvidosos, Rob se sentiu, de alguma forma, um pouco mais seguro.
Eles começaram nas mesas mais tranquilas. Jogaram dados com trolls, apostaram bebidas com gnomos de três olhos, e até dançaram um "desafio de resistência" contra um grupo de espectros que só paravam de girar depois de quatro horas.
No início, Blade parecia invencível — trapaceava com uma naturalidade absurda. Dava a impressão de que podia vencer qualquer um, mesmo sem querer. Rob, por outro lado, mal sabia segurar os dados.
Foi então que um meio-anfíbio barrigudo chamado Plorbit os desafiou para uma partida diferente: Cartas do Destino.
— É fácil — disse Plorbit, cuspindo no chão. — Só puxar uma carta. Quem tirar a melhor, ganha.
Rob, empolgado, topou antes que Blade pudesse avisá-lo.
E aí, tudo desandou.
Rob puxou uma carta que parecia feita de pele humana — e ao virá-la, sentiu o mundo ao redor estremecer.
O símbolo era um crânio rachado envolto por correntes.
Plorbit soltou uma gargalhada.
— Má sorte, novato.
Blade cerrou os punhos.
— Você devia ter esperado. As cartas aqui não brincam.
Antes que Rob pudesse perguntar o que significava, a marca do crânio brilhou em seu braço direito, como uma tatuagem que queimava até a alma.
Plorbit explicou, saboreando cada palavra:
— Você agora deve mil almas ao cassino. Ou paga... ou vira parte da mobília.
Rob arregalou os olhos.
— Mil almas?! Eu nem tenho UMA!
Blade bufou, já puxando Rob para longe.
— Bora, cabeça oca. Temos que resolver isso antes que as dívidas te arrastem.
Eles correram pelas escadas de ossos e passagens iluminadas por velas verdes, enquanto Rob tentava entender como sua vida — ou pós-vida — podia ter saído tão rapidamente dos trilhos.
No fundo, uma certeza crescia em seu peito:
Ou ele aprendia a jogar esse jogo estranho... ou não duraria muito tempo naquele lugar.
Blade parecia determinado a ajudá-lo — mas até onde ia a lealdade de um meio-demônio em um cassino que devorava até a esperança?
Eles correram pelas escadas de ossos e passagens iluminadas por velas verdes, enquanto Rob tentava entender como sua vida — ou pós-vida — podia ter saído tão rapidamente dos trilhos.
No fundo, uma certeza crescia em seu peito:
Ou ele aprendia a jogar esse jogo estranho... ou não duraria muito tempo naquele lugar.
Blade parecia determinado a ajudá-lo — mas até onde ia a lealdade de um meio-demônio em um cassino que devorava até a esperança?