Cherreads

Chapter 48 - Capítulo 48: O Véu e o Sacrifício

A jornada para o Véu era silenciosa, mas carregada de tensão. O terreno ao redor de Ireth e Ethan estava em ruínas, e a distorção na realidade ainda podia ser sentida. O vazio, que havia engolido o mundo e distorcido o tecido da existência, agora parecia estar recuando, mas a presença do Eco ainda pairava, pesada, como uma sombra sobre tudo.

Ireth caminhava ao lado de Ethan, observando a maneira como ele parecia estar em sintonia com a energia que pulsava no ar. Ele não era mais o homem que ela conhecia, mas uma versão dele mesmo, fundida com o poder do Elo Duplo e o Eco. Havia uma certa frieza em seus olhos agora, uma quietude que ela não reconhecia.

Ela queria perguntar mais, queria entender como ele havia se transformado, mas as palavras pareciam não encontrar espaço. A urgência do momento e a ameaça iminente de destruição tornavam qualquer outra dúvida irrelevante. O Véu era a única preocupação agora.

A cada passo, o ambiente ao redor deles se tornava mais instável. As montanhas que antes eram sólidas agora se desintegravam em pedaços de matéria e energia. O céu estava rasgado, com fissuras aparecendo nas nuvens, como se o próprio firmamento estivesse sendo desfeito por dentro.

— Estamos próximos. — Ethan disse, sua voz sem emoção, como se ele estivesse completamente imerso em sua nova realidade. — O Véu está em um ponto de interseção entre todos os mundos. Fechá-lo não será simples. Cada momento de hesitação pode significar o colapso de tudo.

Ireth acenou com a cabeça, sentindo o peso das palavras dele. Eles estavam próximos, sim, mas a questão era: quão próximos realmente estavam de salvar o mundo? O Eco estava se tornando uma força maior, mais intensa, e com cada onda de energia que emanava de Ethan, ela podia sentir a destruição iminente.

As árvores ao redor deles, outrora imponentes, agora estavam morrendo, suas folhas caindo em uma espiral sem fim. O ar estava pesado, carregado de eletricidade estática, e cada respiração parecia um esforço. O Véu não era apenas uma barreira; era um limite entre a vida e a morte, entre o caos e a ordem. E agora, eles estavam prestes a cruzá-lo.

— O Véu... — Ireth sussurrou, como se tentando encontrar uma explicação que pudesse entender. — Eu nunca imaginei que fosse assim.

Ethan olhou para ela, seus olhos refletindo uma sabedoria muito além da compreensão humana. Havia algo em seus olhos agora, algo que se aproximava da dor.

— O Véu é a linha que separa o impossível do possível. Ele existe porque, sem ele, não haveria nada. Não há vida sem a morte, não há luz sem a escuridão. Mas... — Ele pausou, como se estivesse escolhendo cuidadosamente as palavras. — Fechá-lo não será sem consequências. O equilíbrio que ele mantém é frágil. E eu...

Ireth parou e olhou para ele, esperando que ele terminasse. Aquelas palavras estavam carregadas de algo muito mais profundo, algo que ela não conseguia ainda compreender.

— Eu sou o Eco. — Ethan continuou, como se estivesse tentando explicar a si mesmo mais do que a ela. — Eu fui forjado para ser o ponto de convergência entre todos os mundos. O Véu e eu... somos duas faces da mesma moeda. Para fechá-lo, eu devo me sacrificar. Eu... sou o Véu.

As palavras caíram como uma pedra no peito de Ireth. Sacrifício. Aquele era o preço.

— Não. — Ela protestou imediatamente, um impulso de recusa que nasceu do fundo de seu ser. — Você não pode. Você não pode se sacrificar. Não depois de tudo.

Ethan a olhou com uma serenidade que só aumentava o peso da situação. Ele caminhava à frente dela, agora mais distante, mas sua presença ainda emanava força. Ele havia se tornado o elo entre os mundos, e esse elo não poderia ser quebrado sem que ele pagasse o preço. Mas Ireth não podia aceitar isso. Ele não podia ser o sacrifício.

— Eu sou a única opção, Ireth. — Ele disse calmamente. — Você não entende o que isso significa. Fechar o Véu não é algo que qualquer ser possa fazer. Apenas eu... como Eco, posso manter o equilíbrio. Eu sou a convergência das forças, da destruição e da criação. Se eu não me sacrificar, o Véu nunca será fechado. E o que virá em seguida... será ainda pior do que o que já vimos.

Ireth olhou para ele, seu coração apertando. Ela se aproximou mais de Ethan, suas mãos tremendo, incapazes de aceitar a realidade do que ele estava dizendo.

— Você é mais do que isso. — Ela falou com firmeza, tentando encontrar uma forma de impedir o inevitável. — Nós podemos encontrar uma maneira de salvar todos. Nós sempre podemos encontrar uma solução.

Mas Ethan apenas balançou a cabeça.

— Não há mais solução. — Ele disse, com uma suavidade que cortava o ar como uma lâmina afiada. — Eu não sou mais Ethan, Ireth. Eu sou o Eco. E o Eco não pertence a nenhum mundo. Ele é o reflexo do vazio, a ponte entre tudo o que foi e tudo o que será.

Aquelas palavras ressoaram na mente de Ireth como um eco distante, um lamento de algo perdido. O homem que ela conhecera estava se afastando, transformado em algo que ela não podia mais alcançar. Ele estava pronto para dar o passo final.

Ela sentiu uma dor profunda, uma tristeza imensa tomando conta de seu peito. Ela queria lutar contra isso, queria encontrar uma maneira de salvar Ethan, de trazer a humanidade de volta a ele. Mas não havia mais tempo. O Véu estava se fechando rapidamente, e com ele, as últimas possibilidades de mudança.

— Ethan... — Ela disse, a voz falhando. — Eu não posso fazer isso sozinha.

Ele olhou para ela uma última vez, seus olhos brilhandos como estrelas moribundas.

— Você não está sozinha. — Ele respondeu suavemente, quase como uma promessa. — Você tem o poder de mudar o mundo. Não deixe que isso seja em vão.

A última coisa que Ireth ouviu foi o sussurro da energia crescendo, e então, o som do Véu sendo fechado, uma rachadura no espaço-tempo que reverberou por toda a existência. Uma última explosão de luz. O mundo ao seu redor se desfez, e Ireth sentiu uma sensação de perda imensa.

Ethan havia se sacrificado.

Mas, ao fazer isso, ele havia restaurado o equilíbrio. Ele havia fechado o Véu.

E o mundo agora estava seguro. Mas ao custo de uma alma.

More Chapters