O som da fenda se fechando ecoou na vasta cidade de Valtor, mas o silêncio que se seguiu foi perturbador. Embora a cidade agora estivesse calma, algo dentro de Ethan ainda estava em tumulto. A figura da entidade, suas palavras, a promessa de poder — tudo isso pesava em sua mente, deixando-o inquieto. Ele sabia que a decisão que enfrentaria em breve não seria apenas uma escolha entre poder e destruição. Havia algo mais em jogo, algo que ele ainda não entendia completamente.
Elyss estava ao seu lado, observando-o com uma expressão preocupada, mas também sabia que ele precisaria lidar com isso sozinho. A batalha interna que ele enfrentava era algo que ninguém poderia lutar por ele. A jornada de Ethan não era mais apenas sobre destruir ou salvar uma cidade; era sobre compreender seu próprio papel no grande esquema das coisas.
— Você parece distante — Elyss disse, sua voz suave, mas com um toque de preocupação. — Eu sei que essa escolha não é fácil, mas você não pode carregar esse peso sozinho. Eu estou aqui com você, sempre.
Ethan respirou fundo, tentando organizar seus pensamentos. As palavras da entidade ainda ecoavam em sua mente. Ele sabia que as palavras dela eram mais do que uma simples ameaça. Ela não estava apenas oferecendo poder. Ela estava oferecendo um caminho, uma nova perspectiva sobre o que poderia ser feito com Valtor, com o poder que ele possuía. Mas, ao mesmo tempo, ele sentia que havia algo de sombrio nisso, algo que ele não podia entender completamente ainda.
— Eu sei, Elyss — disse Ethan, sua voz grave. — Mas isso... isso é maior do que tudo o que já enfrentamos. Não é só sobre Valtor ou sobre o poder. É sobre o que eu sou, o que eu quero me tornar.
Eles caminhavam pela cidade, suas pegadas ecoando nas ruas desertas, mas Ethan sabia que não havia mais como voltar atrás. Ele já havia cruzado uma linha invisível, e o que quer que fosse aquele poder, o futuro de Valtor, e talvez até o seu próprio futuro, estavam agora entrelaçados de maneira indissolúvel.
Enquanto caminhavam em direção ao centro da cidade, uma sensação de claustrofobia começou a tomar conta de Ethan. Era como se a própria cidade estivesse observando-o, pressionando-o, lembrando-o das escolhas que ainda estavam por vir. A estrutura de Valtor, uma vez vibrante e cheia de vida, agora parecia estar à mercê de uma força invisível, algo que não poderia ser destruído com simples batalha ou destruição.
Elyss parou abruptamente à sua frente, e ele se deu conta de que haviam chegado a uma nova área da cidade — um local que ele não reconhecia. O chão estava coberto por símbolos antigos e místicos, e as paredes pareciam pulsar com uma energia estranha, como se estivessem vivas. A cidade, ou o que restava dela, agora era uma encruzilhada de lugares que pareciam fluir entre o real e o imaginário, onde a lógica parecia perder seu significado.
— O que é isso? — Ethan perguntou, seus olhos atentos aos símbolos no chão.
Elyss olhou para ele, e pela primeira vez, parecia hesitante.
— Estamos em um lugar que poucos ousam explorar... um labirinto. Não físico, mas mental. Este é um local onde as decisões e pensamentos se tornam realidade. O que você busca aqui será refletido em sua mente, em suas escolhas.
Ethan sentiu uma pontada de apreensão. Esse lugar parecia ser mais do que uma simples estrutura. Era como se fosse uma manifestação da própria psique de Valtor, um reflexo de sua busca por poder e controle. O labirinto não era apenas um desafio físico; era uma prova psicológica, uma luta interna que ele precisaria enfrentar para avançar em sua jornada.
— Então... isso é um teste? — Ethan perguntou, tentando entender.
— Não exatamente um teste — respondeu Elyss, com a voz um pouco mais grave. — Mas um desafio. O que você escolher aqui, o que você enfrentar, será uma extensão de quem você é. Não há mentiras aqui, Ethan. Este é um lugar onde não podemos fugir de nossos próprios pensamentos e medos.
Com um suspiro, Ethan olhou para o caminho à frente, onde os corredores escuros do labirinto começavam a se estender. Ele podia sentir a presença de algo, como uma energia que se entrelaçava com seu próprio ser. Era como se o labirinto estivesse esperando por ele, chamando-o para dentro.
— Então, o que você acha que eu devo fazer? — perguntou ele, sem realmente esperar uma resposta. Ele já sabia que estava sozinho em sua escolha.
Elyss o observou por um momento antes de responder.
— Eu não posso lhe dar uma resposta, Ethan. Esse é um caminho que só você pode percorrer. O que você buscará aqui será um reflexo de quem você é, do que você deseja se tornar. Se você ceder às suas próprias inseguranças ou à tentação do poder, será isso o que você encontrará aqui. Mas se for capaz de enfrentar seus próprios demônios, poderá sair mais forte.
Ethan não respondeu imediatamente. Ele sabia que, no fundo, o que estava diante dele não era um inimigo físico, mas a batalha interna que ele temia enfrentar. Seus medos, seus desejos, suas dúvidas — tudo isso estava prestes a se manifestar diante dele.
Ele entrou no labirinto.
As paredes pareciam mudar à medida que ele avançava, como se o próprio ambiente fosse vivo, se adaptando à sua presença. Cada corredor se bifurcava, e ele sentia que cada escolha o levava mais fundo em seu próprio subconsciente. Imagens do passado de Valtor começaram a surgir, cenas de um império que se ergueu para depois ser destruído. Pessoas que pareciam ter sido consumidas pela corrupção, e um poder que vazava de cada pedra e cada estrutura da cidade.
De repente, ele parou diante de uma imagem familiar. Era ele mesmo, mas com uma expressão distorcida e maligna, um reflexo de sua própria escuridão interior. O que ele estava vendo era uma versão dele que havia sucumbido ao poder, que havia destruído tudo o que tocava, sem se importar com os outros.
A figura o encarou, e seus olhos brilharam com uma intensidade selvagem.
— Você é isso — disse a figura distorcida. — O que você procura em seu coração é poder. Você é um ser egoísta, apenas atrás de controle. Não importa o que aconteça, você sempre escolherá a força ao invés da empatia. Essa é a sua verdadeira natureza.
Ethan sentiu uma onda de raiva e tristeza percorrer seu corpo. Ele sabia que aquilo não era real, mas a sensação era avassaladora. A dor e a dúvida começaram a consumir seus pensamentos.
Mas antes que ele fosse consumido, Elyss apareceu ao seu lado, estendendo a mão.
— Não escute essa voz, Ethan. Não se deixe enganar. O que você é e o que você se tornará depende de suas escolhas. Lembre-se de quem você é, do que você já superou.
Ethan olhou para ela e, pela primeira vez, sentiu que talvez não estivesse tão sozinho quanto imaginava. Ele respirou fundo e avançou, afastando a imagem de si mesmo com uma força renovada.
O labirinto estava apenas começando, e ele sabia que a luta interna ainda seria difícil, mas agora ele estava mais determinado. Ele não cederia.