A porta escura se fechou atrás de Ryouma e Tang San, criando um silêncio absoluto que pairou sobre a caverna. O som de seus passos ecoava nas vastas galerias subterrâneas, reverberando de forma estranha, como se o próprio ambiente estivesse absorvendo os ecos e deixando-os perdidos no vazio.
O ar estava mais denso aqui, quase palpável, e a luz das lanternas que carregavam parecia fraca diante da escuridão que os cercava. Era como se a própria caverna os desafiasse a seguir em frente, testando sua determinação, sua coragem e, acima de tudo, sua compreensão do que realmente buscavam.
— Esta sala… é diferente. — Tang San disse baixinho, a sensação de perigo crescente fazendo com que ele ficasse ainda mais alerta. — Eu não gosto disso.
Ryouma, por sua vez, não parecia tão preocupado. Ele estava mais focado, mais determinado, como sempre. Ele não tinha medo da escuridão, nem do que ela escondia. Sua mente estava fixa em um único objetivo: poder. Ele sentia que estava mais próximo de seu destino, mais perto de se tornar alguém imbatível.
— Não temos tempo para hesitar, Tang San. Se estamos aqui, é porque algo de grande importância nos aguarda. — Ryouma disse, sua voz carregada de uma confiança imperturbável.
Tang San olhou para ele, mas não respondeu. Ele sabia que, por mais que Ryouma quisesse avançar sem pensar, não podia ignorar as mensagens que a caverna lhes enviava. Cada passo adiante, cada movimento que faziam, parecia torná-los mais conectados ao enigma que envolvia aquele lugar.
Os dois continuaram andando até que chegaram a uma grande sala. À medida que entravam, as paredes pareciam se estender para o infinito, cobertas por inscrições antigas, cujos símbolos eram incompreensíveis para ambos. O chão estava coberto por um fino pó que parecia ter séculos de idade, e no centro da sala, havia um pedestal de pedra. No topo do pedestal, uma esfera brilhava com uma luz escura e misteriosa, flutuando no ar com uma aura de poder imensurável.
Tang San parou por um momento, observando a esfera. Ele sentia uma energia antiga emanando dela, uma força que não parecia ser deste mundo. Ele não sabia o que era, mas sentia que aquele objeto era a chave para entender o que estava acontecendo. Era o que eles haviam procurado por tanto tempo, mas algo dentro de si o alertava de que aquilo não era o fim, mas o começo de algo muito mais sombrio.
— Isso… isso é o que está por trás de tudo, não é? — Tang San murmurou, mais para si mesmo do que para Ryouma.
Ryouma, com os olhos fixos na esfera, apenas acenou com a cabeça. Ele sentia que o poder emanando dali era quase tangível, algo que o atraía irresistivelmente.
— Sim, isso é o que viemos buscar. — Ryouma disse com um sorriso de determinação. — E é o que vamos tomar para nós.
Mas antes que pudessem dar mais um passo, a sala inteira começou a vibrar. O som de algo se arrastando, como se as rochas estivessem se movendo, tomou conta do ambiente. O pedestal no centro da sala começou a tremer, e a esfera flutuante brilhou com mais intensidade, iluminando as paredes antigas e revelando mais inscrições que antes estavam ocultas. A luz que emanava dela não era uma luz normal. Era uma energia negra, opaca, que parecia absorver tudo à sua volta.
De repente, o chão sob seus pés começou a rachar. Ryouma deu um passo atrás, mas Tang San já estava em movimento, tentando entender o que estava acontecendo. Antes que pudessem reagir, o pedestal se partiu, e a esfera foi arremessada para o centro da sala. No mesmo momento, uma onda de energia irrompeu da esfera, espalhando uma força avassaladora.
O mundo ao redor deles começou a se distorcer.
— Cuidado! — Tang San gritou, empurrando Ryouma para o lado. Mas não era o suficiente. A onda de energia os envolveu completamente.
Eles foram puxados para o interior da caverna, em uma velocidade quase insana. Era como se o espaço ao redor deles estivesse sendo dilacerado, e o que antes parecia ser uma sala sólida agora estava se transformando em uma distorção de tempo e espaço. As imagens que viam eram fragmentadas, quase como se estivessem sendo mostradas em flashes rápidos, distorcendo as realidades, criando um caos total ao seu redor.
Ryouma, com os olhos apertados, lutava para manter o controle. Ele sentia o poder dentro da esfera, e algo nele respondia a isso, como se a esfera tivesse tocado um ponto profundo em sua alma. Mas não era apenas o poder que estava chamando sua atenção. Era o que estava acontecendo com eles. A caverna parecia estar se desintegrando, e eles eram agora parte de uma grande força cósmica.
De repente, tudo parou. O silêncio era profundo e esmagador, e quando Ryouma abriu os olhos, se viu em um lugar completamente diferente.
Ele e Tang San estavam agora em uma vasta paisagem desolada, onde o céu parecia ter uma cor escura e opaca. O ar estava frio, e o chão estava coberto por uma camada espessa de cinzas. No horizonte, uma cidade antiga se erguia, com suas torres imponentes e suas muralhas de pedra quebradas, como se tivesse sido abandonada há séculos.
— Onde estamos? — Tang San perguntou, sua voz reverberando no vazio. Ele parecia tão surpreso quanto Ryouma, e o olhar nos olhos do jovem indicava que ele também sentia que algo estava muito errado.
Ryouma olhou ao redor, a sensação de desconforto aumentando a cada segundo.
— Isso… isso não é possível. Não podemos estar em algum tipo de dimensão alternada, podemos? — Ele murmurou para si mesmo, tentando entender o que estava acontecendo.
Mas antes que pudesse refletir mais sobre a situação, uma presença poderosa apareceu à sua frente. Da névoa escura que cobria a cidade, uma figura começou a se materializar. Era uma silhueta alta, coberta por uma capa negra, com um capô que escondia o rosto. Suas mãos estavam levantadas, como se estivesse manipulando o próprio espaço ao redor deles.
Quando a figura falou, sua voz soou como um trovão, ecoando pela vasta paisagem.
— Bem-vindos ao Reino das Sombras, jovens viajantes. Vocês que buscaram o poder sem entender o que isso realmente significa, agora terão que enfrentar as consequências de suas escolhas.
A figura se aproximou, e quando o capô foi retirado, revelando um rosto antigo e imponente, uma onda de horror percorreu os corpos de ambos.
O rosto da figura estava marcado com cicatrizes antigas, e seus olhos brilhavam com uma energia intensa, uma energia que parecia transcender a própria realidade. Era a expressão de um ser que havia existido por eras, e que havia testemunhado mais do que qualquer ser humano poderia imaginar.
— Eu sou o Guardião deste lugar, e o poder que vocês tanto desejam será a chave para uma guerra antiga, uma guerra que decidirá o futuro de tudo. O que buscam não pode ser dado de graça. Para possuí-lo, terão que fazer uma escolha. O que estarão dispostos a sacrificar para obter o poder que tanto almejam?
A figura estendeu a mão em direção a eles, e uma força indescritível os envolveu. Eles estavam prestes a fazer a escolha que mudaria tudo, e os olhos da entidade refletiam uma sabedoria que fazia os dois se sentirem minúsculos diante de algo tão grande e tão antigo.