O brilho da luz os envolveu por completo, mas ao invés de cegá-los, ela parecia purificar suas mentes, como se cada átomo de sua existência estivesse sendo limpo de todo o peso que carregavam. Elyss e Tang San sentiram seus corpos serem arrastados para um novo espaço, mas desta vez a sensação de movimento foi muito mais suave, quase como se estivessem flutuando em um oceano calmo e sereno.
Quando a luz finalmente se dissipou, eles se encontraram em um vasto campo. A paisagem era deslumbrante, como algo retirado dos mais belos sonhos. O céu estava claro e sem nuvens, com um tom de azul profundo que se estendia até onde a vista alcançava. As árvores ao redor eram altas, com folhas douradas que dançavam suavemente com o vento. O solo era coberto por flores de cores intensas, e o aroma no ar era fresco, quase etéreo.
No entanto, algo parecia desconcertante. Apesar de toda a beleza, havia uma quietude estranha, como se o tempo nesse lugar não seguisse as mesmas regras que o mundo exterior. Cada passo dado parecia ecoar infinitamente, e a sensação de estar em um lugar fora do alcance do tempo era esmagadora.
Elyss olhou ao redor com desconfiança, sentindo que havia algo mais ali do que seus olhos podiam perceber. Ela tocou a grama sob seus pés, e, por um momento, imaginou que poderia ouvir um sussurro vindo das profundezas do chão.
— O que é isso? — ela perguntou, sua voz suave, mas carregada de tensão.
Tang San também estava observando atentamente, seus olhos fixos em uma figura distante. Era um ser humano, mas seu semblante não era como o de qualquer pessoa que já tivesse visto. A figura estava vestida com roupas que pareciam feitas de luz, com um brilho suave que emanava dela, como se estivesse conectada diretamente com o ambiente ao seu redor.
A figura começou a caminhar em direção a eles, cada passo parecendo se sincronizar perfeitamente com o movimento da paisagem, como se o próprio espaço estivesse dançando ao ritmo de seus passos.
Quando a figura finalmente chegou até eles, revelou-se como uma mulher de aparência etérea, com longos cabelos prateados que flutuavam ao redor de seu rosto, como se uma brisa invisível os movesse. Seus olhos eram profundos e infinitos, refletindo não apenas o céu acima, mas algo muito além, como se pudessem enxergar diretamente as almas de quem a observasse.
— Bem-vindos, Elyss e Tang San — disse ela, sua voz suave, mas carregada de uma força indescritível. — Vocês finalmente chegaram ao Portal da Revelação.
Elyss deu um passo atrás, seus olhos se estreitando.
— Quem é você? — perguntou ela, desconfiada.
A mulher sorriu, e em seu sorriso havia uma sabedoria que parecia atravessar milênios.
— Eu sou Aeterna, guardiã do Portal da Revelação. E mais do que isso, sou a guardiã do equilíbrio entre todos os mundos. O Nexus trouxe vocês até aqui, porque há algo que precisam ver. Algo que só pode ser compreendido através de uma visão mais profunda, além daquelas reveladas pelas sombras e pela luz.
Tang San observou Aeterna com interesse, mas não falou nada. Havia algo nela que o fazia sentir tanto respeito quanto cautela. Era como se ele estivesse diante de uma força primordial, algo que não podia ser desafiado sem consequências.
— O que precisamos ver? — Elyss perguntou, sentindo que a resposta estava à beira de suas perguntas mais profundas.
Aeterna levantou uma das mãos e, com um gesto suave, o campo ao redor deles começou a mudar. As flores que antes dançavam no vento começaram a se agitar mais intensamente, e o céu acima mudou de cor, tornando-se um emaranhado de cores vibrantes que se misturavam de forma inexplicável. As árvores se curvaram, suas raízes se estendendo pelo solo como se quisessem tocar as estrelas.
Elyss sentiu uma pressão crescente, como se estivesse sendo puxada para dentro de algo muito maior do que ela mesma. Mas antes que pudesse entender o que estava acontecendo, Aeterna falou novamente, sua voz profunda e cheia de gravidade.
— O Nexus os trouxe aqui porque, para alcançar o que desejam, precisam primeiro entender a verdadeira natureza do equilíbrio. A resposta que buscam não está apenas nas suas mãos ou nas suas almas. Ela reside no equilíbrio entre os mundos, entre luz e sombra, entre o que é visto e o que está oculto.
Elyss e Tang San trocaram um olhar confuso, ambos sabendo que estavam diante de algo muito maior do que qualquer um dos dois poderia compreender de imediato.
— O que isso significa? — Elyss questionou.
Aeterna olhou para ela com uma expressão que parecia compreender todas as dúvidas e angústias que a jovem sentia. Então, com um movimento de sua mão, ela fez com que uma visão começasse a se formar no ar à frente deles. Era uma cena do passado, mas também do futuro, entrelaçada de uma maneira que distorcia o tempo.
Elyss viu uma versão de si mesma, mais jovem, caminhando por uma floresta escura, cercada por sombras que a observavam com olhos famintos. Ela estava sozinha, mas seus passos não eram incertos. Havia algo em seu coração, algo que a impulsionava a seguir em frente, sem medo. Mas então, ela viu outra figura emergir da escuridão: Ethan. Seu rosto estava distorcido pela dor e pela raiva, mas havia algo de familiar em seus olhos. Como se ele fosse uma versão dela mesma, algo que ela temia se tornar.
Elyss sentiu um aperto no peito. A visão mostrava uma escolha, uma bifurcação entre seguir o caminho da vingança ou buscar a redenção. Mas, ao mesmo tempo, ela sabia que essa escolha não era apenas sua. A visão se distorceu e mostrou Tang San ao seu lado, com um olhar que refletia tanto sofrimento quanto esperança. Ele não estava ali apenas como um aliado, mas como alguém que também enfrentava a mesma luta interna.
— O que significa isso? — Elyss perguntou, a visão desaparecendo antes que ela pudesse obter todas as respostas.
Aeterna olhou para ela com uma serenidade imperturbável.
— Isso é o que vocês são, o que foram e o que podem se tornar. O equilíbrio está em suas mãos, mas para manter esse equilíbrio, precisam aprender a olhar para o que está oculto dentro de vocês. Só então poderão salvar não apenas o que amam, mas também os mundos que os cercam.
Elyss sentiu um arrepio, como se uma verdade universal tivesse sido revelada a ela, uma verdade que desafiava todas as certezas que ela havia construído até aquele momento.
Tang San permaneceu em silêncio, mas seus olhos estavam fixos em Aeterna, como se finalmente começasse a entender a verdadeira natureza do desafio que enfrentavam.
— Estamos prontos — disse ele, sua voz firme, mas com uma gravidade nova. — Mostre-nos o que precisamos fazer.
Aeterna sorriu novamente, mas dessa vez sua expressão era mais gentil, como se estivesse satisfeita com a determinação dos dois.
— O caminho à frente será difícil. Mas se conseguirem manter o equilíbrio em seus corações, estarão prontos para enfrentar o que está por vir.
Com essas palavras, a paisagem ao redor deles começou a se transformar mais uma vez, e a jornada de Elyss e Tang San estava apenas começando.