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Chapter 93 - Capítulo 93: O Labirinto das Almas

O ar estava mais denso, e a sensação de deslocamento nunca parecia tão forte quanto agora. Elyss e Tang San seguiram Aeterna enquanto ela os guiava por um caminho que parecia levar diretamente para o centro daquele mundo estranho. Cada passo que davam ressoava, e o som de seus pés tocando o solo reverberava, como se estivesse ecoando em um espaço sem fim. O campo que antes parecia vasto e aberto agora começava a se transformar. O céu começou a escurecer, e as árvores douradas se tornaram retorcidas, com galhos que se estendiam em direções que pareciam desobedecer à lógica.

Aeterna, com sua calma incomum, não parecia se incomodar com a transformação do ambiente ao redor. Ela estava como uma guia experiente, como se já tivesse visto muitos passagens por esse caminho.

— O que está acontecendo? — Elyss perguntou, sua voz cheia de desconfiança. A mudança no ambiente a deixava inquieta. Não era apenas a aparência que mudava, mas a sensação do lugar parecia cada vez mais desconfortável. Como se o próprio espaço estivesse sendo manipulado.

Aeterna olhou para ela e respondeu com uma leveza peculiar.

— O que vemos agora não é o que parece. Estamos entrando no Labirinto das Almas, onde o tempo e o espaço se curvam e se estendem de maneiras que a mente humana não consegue compreender completamente. É um lugar onde as próprias essências de quem somos — ou fomos — se entrelaçam. Aqui, vocês encontrarão o que é mais profundo dentro de si mesmos, as verdades que estão ocultas.

Tang San franziu a testa, seu olhar fixo no caminho à frente. Ele já havia passado por muitos tipos de provações, mas isso era algo diferente. Ele sentia que ali havia algo mais, algo que testaria não apenas suas habilidades de combate, mas sua própria alma.

— E como saímos de aqui? — ele perguntou, com sua voz calma, mas cheia de uma curiosidade que estava sendo alimentada pela incerteza.

Aeterna não respondeu de imediato. Ao invés disso, ela ergueu uma das mãos, e, com um gesto suave, as árvores ao redor começaram a se mover. As folhas se desintegraram, revelando um corredor estreito feito de névoa densa. O labirinto parecia vivo, seus caminhos se retorcendo e se entrelaçando em uma dança que desafiava toda lógica.

— Não há um caminho direto — disse Aeterna, com uma serenidade que contrastava com o caos que se desenrolava à sua volta. — O que importa aqui não é apenas a direção, mas o que vocês encontram dentro de si mesmos.

Elyss olhou para o corredor que se estendia diante dela. O que ela sentiria aqui dentro? O que seria forçada a confrontar?

Aeterna sorriu, como se pudesse ler seus pensamentos.

— Todos vocês, em algum momento, terão que enfrentar os aspectos mais profundos de sua alma. O Labirinto das Almas não é apenas um teste de força ou inteligência, mas uma prova daquilo que há no coração de cada um. É um espelho para o que vocês mais temem, e para o que mais desejam.

A expressão de Elyss se endureceu. Ela sabia que não poderia evitar esse enfrentamento, mas a ideia de olhar para dentro de si mesma, de confrontar aquilo que escondia, a aterrorizava.

— Vamos — disse ela, mais para si mesma do que para Aeterna ou Tang San. Ela não poderia hesitar. Não agora.

Com um aceno de cabeça, Aeterna a guiou para o interior do labirinto. O corredor à frente parecia se esticar infinitamente, com as névoas envolvendo-os e obscurecendo a visão. Conforme avançavam, a sensação de que algo os observava se tornava mais forte. Elyss sentiu o ar se tornando mais denso, como se algo estivesse prestes a se revelar, e ela não sabia se estava pronta para o que viria.

Então, sem aviso, o ambiente ao redor começou a mudar de maneira quase imperceptível. O chão sob seus pés começou a se transformar em pedras macabras, e a névoa ao redor se dissipou, dando lugar a uma visão sombria e distorcida. De repente, uma grande porta de ferro apareceu diante deles. A porta era imponente, com símbolos antigos e desgastados esculpidos em sua superfície. No entanto, uma sensação inquietante emanava dela, como se fosse algo que deveria ser evitado, não aberto.

— O que é isso? — Elyss perguntou, hesitante.

Aeterna, com um olhar que não se alterava, respondeu:

— Esta porta é o ponto de entrada para a próxima fase de seu desafio. Ela leva ao centro do labirinto. Para atravessá-la, devem primeiro compreender a verdadeira natureza do que estão buscando. Este não é um teste de força, mas de compreensão. O que vocês acreditam ser a verdade, pode não ser o que realmente é.

Tang San deu um passo à frente, seus olhos fixos na porta. Ele sentia que sua jornada estava se tornando mais complexa a cada momento, mas, ao mesmo tempo, uma parte dele desejava entender mais. Ele sabia que não havia como voltar atrás.

— Então, o que temos que fazer? — ele perguntou, seus olhos não se afastando da porta.

Aeterna olhou para eles, e sua expressão se suavizou, como se estivesse prestes a revelar algo importante.

— O labirinto não os levará adiante até que olhem dentro de si mesmos. Somente quando tiverem enfrentado suas sombras, as portas se abrirão.

Elyss olhou para a porta, uma sensação desconfortável tomando conta de seu ser. O que suas sombras poderiam significar neste momento? O que ela temia mais do que tudo?

Enquanto pensava sobre isso, a porta de ferro começou a se abrir lentamente, o som de suas dobradiças rangendo ecoando no labirinto, como se algo ancestral estivesse despertando.

Uma brisa fria atravessou o corredor, e Elyss sentiu uma presença familiar, algo que havia sentido anteriormente, mas agora mais intensa. Ela virou-se rapidamente, mas não viu ninguém.

— A viagem está apenas começando — disse Aeterna, com uma voz que ressoava no ar. — Preparem-se para o que está por vir. O que buscam nem sempre será aquilo que esperam.

A porta se abriu completamente. Lá dentro, uma escuridão impenetrável os aguardava, como um abismo esperando para devorar tudo. Elyss sentiu sua respiração falhar por um momento. Não havia mais volta.

Tang San olhou para ela e, com um olhar resoluto, deu o primeiro passo em direção à escuridão.

O labirinto os aguardava, e o verdadeiro teste estava prestes a começar.

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