A luz pulsante que envolvia o trio desapareceu tão rapidamente quanto apareceu. De repente, eles estavam em um ambiente diferente, um vasto salão iluminado por uma energia sobrenatural que parecia emanar das próprias paredes. O chão, feito de pedras negras e lustrosas, refletia a luz, criando uma sensação de profundidade infinita. O ar era denso, carregado com uma sensação de pressão, como se estivessem sendo observados por uma presença invisível.
Tang San, Elyss e Aeterna ficaram paralisados por um momento, suas respirações sincronizadas enquanto tentavam entender a vastidão do local. A figura imponente que haviam visto antes parecia ter se desvanecido, mas sua presença ainda estava ali, pairando no ar como uma sombra persistente.
— Onde estamos? — Elyss foi a primeira a quebrar o silêncio, sua voz cheia de cautela.
— Um espaço entre mundos — respondeu Aeterna, seu tom profundo e refletido. — Um lugar onde os limites da realidade são distorcidos. Este é o ponto de convergência, onde todas as escolhas se entrelaçam e o poder do despertar se revela.
Tang San, embora ainda desconcertado, sentiu uma crescente sensação de urgência. Ele sabia que estavam muito próximos do que realmente importava. O despertar que o Guardião mencionara estava prestes a acontecer, e com ele, viria uma transformação que alteraria tudo. Mas o preço, como sempre, ainda pairava no ar como uma ameaça iminente.
De repente, a figura que havia desaparecido antes apareceu novamente. Desta vez, sua forma era mais nítida, seus contornos mais definidos. Uma entidade feita de pura energia, com uma aura que exalava poder e autoridade. Seus olhos, se é que poderiam ser chamados assim, eram apenas esferas de luz branca, penetrantes e insondáveis.
— O que desejam? — a entidade perguntou, sua voz reverberando no salão como um trovão distante.
Tang San olhou para a figura com determinação, sentindo seu coração bater mais forte. Ele sabia que não havia volta. A batalha pela compreensão de seu próprio destino começava ali, e ele não podia hesitar.
— Eu busco despertar o poder que me foi concedido — disse Tang San, suas palavras firmes, mas com uma pitada de incerteza. — Preciso entender até onde posso ir com ele. O Guardião disse que meu destino está atrelado a essa força. Preciso saber se posso controlá-la.
A entidade o observou por um longo momento, a luz de seus olhos parecendo penetrar nas profundezas de sua alma. Ela então se moveu, suas formas etéreas ondulando como uma tempestade prestes a se desatar.
— O poder que você busca não é algo que se controla facilmente, mortal — disse ela, sua voz carregada com uma sabedoria ancestral. — Ele nasce da essência do próprio universo, da tensão entre a criação e a destruição. E como todo poder, tem um preço. Não há poder sem sacrifício. A pergunta que você deve responder, Tang San, é: até onde está disposto a ir para obter aquilo que deseja?
Tang San sentiu uma onda de frio atravessar seu corpo, mas não recuou. A escolha estava diante dele. A entidade não estava apenas desafiando-o fisicamente, mas emocionalmente, tentando testá-lo até os limites de sua coragem e ambição.
— Não posso retroceder agora — disse ele, sua voz mais forte do que antes. — Sei que o preço será alto, mas estou disposto a pagá-lo. Não posso falhar.
A figura silenciosamente acenou, como se tivesse previsto essa resposta. Ela levantou uma mão, e o salão ao redor deles começou a se transformar. As paredes se desmaterializaram, dando lugar a uma vasta paisagem de estrelas e névoa, como se estivessem agora flutuando no vazio do espaço. Uma luz intensa os envolveu, tornando tudo ao seu redor opaco e distante.
— Então, prepare-se — disse a entidade. — O despertar é mais do que um simples ato de liberar poder. Ele exigirá de você mais do que pode imaginar. Você não apenas libertará o poder que habita em seu ser; você será transformado por ele. A questão é: você poderá sobreviver a essa transformação?
Antes que Tang San pudesse responder, uma onda de energia o envolveu. Era quente e fria ao mesmo tempo, uma sensação avassaladora que fez seu corpo tremer. O chão desapareceu sob seus pés, e ele foi arrastado para uma esfera de luz, onde sua visão se distorceu e seu corpo parecia flutuar. Ele sentiu uma pressão crescente sobre sua mente, como se todas as suas memórias, desejos e medos estivessem se unindo em um único ponto, prestes a explodir.
Ele tentou resistir, mas a força era imensa, e o poder que despertava dentro de si parecia escorregar através de seus dedos. Era como se ele fosse uma marionete, puxado e moldado por algo além de seu controle.
Foi então que ele ouviu uma voz em sua mente, uma voz familiar, mas cheia de uma autoridade inusitada.
— Tang San... você finalmente chegou até aqui. Mas o que você faz agora definirá seu destino. Você deve escolher.
A voz era familiar, mas ele não sabia de onde vinha. Não era de Aeterna, nem de Elyss, mas soava como algo que havia ouvido antes, algo que havia aprendido com o tempo. Ele se concentrou, tentando entender, tentando lembrar.
— Quem é você? — perguntou ele, sua voz ecoando em sua mente.
— Eu sou a essência do seu poder. E você é a chave para o que virá. Mas, como toda chave, você deve ser capaz de suportar o que ela desbloqueia. O que você faz agora determinará o que será liberado. Escolha sabiamente.
Antes que Tang San pudesse formular uma resposta, a luz se intensificou e ele sentiu uma dor lancinante atravessar seu corpo. Sua mente foi invadida por uma enxurrada de visões, imagens de futuros possíveis, de destinos que se entrelaçavam. Cada uma dessas imagens era uma possibilidade, um caminho que ele poderia seguir. Mas ele sabia que não podia seguir todos eles.
A dor se intensificava, e ele gritou, um grito que parecia ecoar através de todas as dimensões. E, de repente, ele soube o que precisava fazer. Ele sabia que precisava escolher.
Com um esforço final, ele se entregou à energia que o envolvia, permitindo que ela o tomasse completamente. Ele aceitou o poder, aceitou o preço.
E a luz explodiu.