A Caverna das Sombras não parecia um lugar destinado à vida. O ambiente era opressor, e cada respiração de Tang San e Ryouma fazia eco nas vastas e misteriosas cavernas, como se até o som tivesse medo de se manifestar. As paredes negras pareciam absorver a luz que vinha de suas lanternas, deixando-os em um mar de sombras profundas, onde até seus próprios passos soavam como gritos no vazio.
Ryouma, impaciente, foi o primeiro a romper o silêncio.
— Isso aqui é uma completa armadilha. — Ele resmungou, a frustração evidente em sua voz. — Quanto mais andamos, mais isso parece um túmulo. Eu não vim aqui para morrer. Precisamos encontrar o que viemos buscar e sair daqui o mais rápido possível.
Tang San, por sua vez, caminhava com mais cautela. Ele sabia que o lugar era traiçoeiro, e cada passo dado ali poderia ser o último, se não fosse dado da maneira correta. Ele não podia se dar ao luxo de ser imprudente, mas também sabia que o que os aguardava ali era essencial para o que viria depois. Não havia como fugir do destino, mas era preciso enfrentar o que estava por vir com sabedoria e força.
— Eu sei o que você está pensando, Ryouma. — Tang San falou, sem olhar para trás. — Mas não podemos apressar as coisas aqui. A Caverna das Sombras escolhe seus visitantes, e aqueles que não são dignos… acabam perdendo mais do que suas vidas. Vamos com calma.
Ryouma não disse nada, mas a irritação era palpável. Ele não gostava de esperar, muito menos de ser cauteloso. Ele queria a resposta, e queria agora. O poder que ele tanto buscava parecia estar mais distante do que nunca.
À medida que adentravam mais e mais no interior da caverna, uma estranha sensação começou a tomar conta deles. A pressão ao redor parecia crescer, como se o próprio espaço estivesse se fechando sobre eles. Mas não era apenas a sensação de confinamento. Era algo mais, algo mais profundo. Era como se o próprio tempo estivesse sendo alterado, torcido, e uma sombra se arrastava atrás deles.
De repente, uma luz brilhou à frente. Não era forte, mas o suficiente para iluminar uma parte do caminho à frente. Eles se aproximaram cautelosamente, e logo se depararam com uma grande sala subterrânea, iluminada por cristais que pulsavam com uma energia peculiar. O ar estava carregado com uma energia densa, e à medida que olhavam ao redor, perceberam que haviam chegado a uma área que parecia ser o centro da caverna.
No centro da sala, uma figura estava deitada, aparentemente em um sono profundo. Ela estava coberta por uma capa escura, e sua aura era estranhamente familiar. Ryouma deu um passo à frente, mas Tang San o deteve com um gesto.
— Não se aproxime. — Tang San sussurrou, uma sombra de preocupação cruzando seu rosto. — Algo não está certo.
Ryouma, embora impaciente, obedeceu, parando onde estava. O silêncio na sala era quase opressor, e ele podia sentir uma presença estranha ao redor deles, como se algo estivesse observando-os com interesse. A figura no centro da sala parecia imersa em um tipo de sono profundo, mas a aura que emanava dela era enigmática. Algo sobre ela estava conectando-se com ele, algo que ele não conseguia entender completamente.
Tang San estudava a figura com um olhar cauteloso. Ele sentia que algo estava prestes a acontecer, algo que mudaria completamente o curso de sua jornada. Era como se a Caverna das Sombras tivesse trazido à tona um segredo há muito guardado, e ele sabia que, em algum ponto, ele teria que enfrentar essa verdade.
A figura, então, se mexeu, seus olhos se abrindo lentamente. Eles eram de um azul profundo, como o mar em uma noite sem lua. Quando seus olhos se fixaram em Tang San e Ryouma, um sorriso enigmático surgiu em seu rosto, e a voz que saiu de seus lábios parecia carregar o peso de séculos.
— Vocês… finalmente chegaram.
Tang San franziu a testa.
— Quem é você? E por que está aqui, no centro da Caverna das Sombras?
A figura se levantou com facilidade, como se o peso de seu corpo não fosse mais um fardo. Seus movimentos eram fluidos e graciosos, e sua presença parecia alterar o ambiente ao redor. Ela olhou para eles com uma calma desconcertante.
— Eu sou apenas um eco do passado, uma memória que foi esquecida. A Caverna das Sombras é meu lar, mas não sou a única coisa que ela guarda. Vocês, dois, chegaram aqui com um propósito, e este propósito os unirá, mas também os dividirá.
Ryouma olhou para a figura com desconfiança.
— O que você quer dizer com isso? Não temos tempo para enigmas. Se tem algo que pode nos ajudar a entender o que está acontecendo, então fale agora.
A figura deu um pequeno sorriso, como se estivesse divertida com a impaciência de Ryouma.
— O que eu quero dizer, jovem, é que o poder que vocês buscam tem raízes profundas no tempo e no espaço. A guerra que se aproxima não é apenas uma guerra de força física, mas uma guerra de destinos, de escolhas. O que vocês farão agora, nos próximos momentos, poderá determinar o curso de tudo o que está por vir.
Tang San franziu a testa.
— O que exatamente você sabe sobre isso? E por que está nos dizendo isso agora?
A figura olhou para Tang San com um olhar penetrante, como se estivesse lendo suas emoções mais íntimas.
— Porque o que está por trás de sua jornada é algo que você não pode compreender completamente. A Caverna das Sombras guarda mais do que apenas o poder. Ela guarda o segredo dos destinos. E você, Tang San, está mais envolvido nisso do que pode imaginar.
Ryouma, ainda impaciente, não aguentou mais.
— O que você quer de nós, então? Falar em enigmas não vai nos levar a lugar algum.
A figura não respondeu imediatamente. Ela fechou os olhos por um momento, como se estivesse refletindo sobre algo. Quando abriu os olhos novamente, uma aura estranha começou a emanar dela, algo que se misturava com a própria energia da caverna.
— O que vocês querem está dentro de cada um de vocês, mas o preço será alto. A verdade que vocês buscam está guardada, mas para alcançá-la, terão que sacrificar algo de grande valor. E quando isso acontecer, não haverá volta.
As palavras da figura ficaram gravadas em suas mentes como uma sentença. Havia um peso em suas palavras, algo que fazia os dois jovens se questionarem sobre suas próprias escolhas. O que realmente estavam buscando? O que estavam dispostos a perder?
A figura deu um passo para trás, desaparecendo na sombra com a mesma graça com que havia surgido, e a caverna voltou a ficar em silêncio.
Ryouma olhou para Tang San, seu rosto uma máscara de determinação.
— Vamos continuar. Se o poder estiver aqui, então vamos tomá-lo. Não importa o preço.
Tang San, no entanto, hesitou por um momento. Ele sabia que, por mais que desejassem o poder, o caminho que estavam escolhendo poderia ser mais perigoso do que imaginavam. Mas uma coisa era certa: não havia mais volta.
Eles continuaram sua jornada pela caverna, com o peso das palavras da figura ecoando em suas mentes. O que quer que fosse que os aguardasse, a verdade estava mais próxima do que nunca.